Sei que essa é uma pergunta que muitos estão fazendo, mas você poderia me perguntar outra coisa ainda mais interessante: o que você fez para os seus três filhos gostarem de estudar matemática?
Não vejo que eles simplesmente gostam de matemática, acho que eles curtem muito mais do que eu, que fiz uma graduação em física. Como eu consegui fazer eles gostarem de exatas? Ah, você não vai acreditar se eu te disser, mas foi assim: nunca tentei!
É isso mesmo que você acabou de ler. Penso que ajudei muito os meus filhos a gostarem de matemática porque eu nunca tentei convencer eles a estudar isso, nunca levei as matérias da escola a sério demais. Lembro que diversas vezes eu fazia e ainda faço piadas usando números. Quando a Evelyn, minha filha caçula, estava em processo de alfabetização, eu dizia que preferia contar até dez assim: 0, 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 4. Ela reagia dizendo que isso estava errado e eu respondia que não, na verdade eram todas as outras pessoas do mundo que contavam errado. Ela não percebia a ironia e ficava na dúvida se eu tinha ficado louco.
Penso que no fundo eu só queria evitar que eles tivessem que passar pelas mesmas ameaças e manipulações escolares que eu sofri, quando me forçaram a aprender por pressão. Não dei importância para o boletim, não cobrei meus filhos para que tivessem um desempenho acima da média, evitei ficar torturando eles para que aprendessem algo que não se interessavam.
Assim eles cresceram sem os traumas que eu tive. Eu mesmo só consegui superar o desgosto de ter que estudar matemática depois de terminado o meu ensino médio. Lembro de ter odiado Matemática em todos os meus anos escolares. Como responsável pela educação dos meus filhos, eu sabia que não poderia reproduzir isso para as gerações posteriores.
Uma outra pergunta chave que poderia ter sido feita a mim é: o que os seus professores fizeram para que você criasse uma aversão a uma área do conhecimento da qual mais tarde seria reconhecida nela uma grande empatia?
Acho que meus professores odiavam o que eles ensinavam ou pelo menos a forma com que a cartilha dizia que eles tinham que ensinar. Era comum notar o estresse ou desânimo quando eles davam as aulas. Esses conteúdos pareciam não fazer sentido algum para ninguém da minha turma, nem mesmo para o meu professor. Então eu passei a ter desgosto por aquilo que todos também repudiavam.
Sabe o que esse exemplo tem a ver contigo? Se você for capaz de encontrar cura para as suas feridas com as exatas, começando a aplicar naturalmente as relações algébricas e geométricas no seu dia-a-dia, buscando que elas atendam às suas necessidades com leveza e alegria, assim seus filhos serão profundamente inspirados pelo seu exemplo. Pelo menos comigo foi assim que aconteceu.
Descubra como se apaixonar pelas exatas, brinque com ela e faça com que ela tenha sentido na sua vida. Ao transbordar de entusiasmo genuíno por qualquer assunto, você papai, você mamãe, será a maior fonte de inspiração para os filhos. Ah, também preciso pedir-lhe desculpas por não ser capaz de indicar um livro, aplicativo ou canal educacional. É que nunca senti a necessidade de fazer uso deles na educação domiciliar dos meus filhos. Decidi me tornar muito mais um criador do que um consumidor de conteúdo e foi por isso que abri o canal no YouTube do Open Maker e este site em que este texto está sendo publicado.
Seja você o melhor material didático, um livro vivo para os seus filhos. Sempre que quiser muito que eles sejam transformados em qualquer área, não tente forçá-los a nada. Se as principais mudanças são aquelas que vêm de dentro para fora, então precisamos permitir que nós sejamos transformados primeiro. Permita que esta faísca nasça no seu interior, aqueça a sua família com a chama que você for capaz de manter, deixe que no tempo certo seus filhos encontrem suas próprias faíscas e mais tarde eles incendiarão o mundo.
Marcio Kobayashi, São Paulo, 24/01/2023